30 de março de 2014

[DDI] Espelho


Como todos os dias, ela voltava pra casa e, depois de colocar a bolsa sobre o móvel,  tirar a roupa e os saltos, ela sentava em frente ao seu espelho.
Olhava para aquele rosto, tão maquiado, montado e perfeito, os cabelos arrumados e penteados, olhava essa imagem e não se reconhecia. Neste momento começava seu ritual: retirava a maquiagem dos olhos e em seu lugar assumia as verdadeiras sombras que permeavam seu olhar cansado, as pálpebras caídas de alguém que desistiu de lutar, as olheiras que se mostravam e revelavam suas noites mal dormidas, em sua cama apenas ela e seus pesadelos. 
Retirava o corretivo e a base, e com eles se iam as mentiras que lhe contavam, que ela era feliz, que o mundo lhe pertencia, que seu futuro era promissor. A dura realidade enrijecia os músculos de sua face, ela não queria nada daquilo, como perseguir seus sonhos se ela mal os conhecia, lutar pelo que acreditava, sendo que a única coisa que lhe fazia sentido era que tudo tinha um fim. Essas eram as suas verdades. 
O batom era o próximo, e o sorriso falso saía como tinta no algodão, seus lábios uma triste linha reta sem expressão, não entendia como as pessoas acreditavam tão fortemente em seu sorriso, seu ânimo cuidadosamente forjado e seus surtos de alegria meticulosamente programados, ninguém nunca desconfiou, ninguém nunca viu. 
Desmontava seus cabelos, tirava os grampos e prendedores e eles caiam por suas costas livres das amarras em que ela mesma se prendia. Os ombros caiam, a pose se esvaia.
Ela olhava para o espelho e depois de tudo ela realmente se via, apenas ela se conhecia assim, tão pura, tão natural, tão triste. E, nesses breves momentos, ela se sentia completa. 


Daniele A. Vintecinco


DDI – Delírios, Devaneios e Insensatez - um espaço em que escrevo todos os pensamentos, delírios e devaneios que vêm a minha cabeça, o que é no mínimo uma insensatez. 

24 de março de 2014

[Teatro] Crazy For You – Musical


Depois de ver o trabalho de Cláudia Raia e Jarbas Homem de Mello em Cabaret não poderia deixar de ver os dois em seu último musical, Crazy for You.
Com uma história leve e muitas cenas de dança Crazy for You é uma daquelas obras para adoçar a alma.
A história é baseada no livro de Ken Ludwig e conta a vida de Bobby Child, um playboy de Nova York que é filho de uma bancária e noivo de uma mulher rica, porém seu sonho não é cuidar do banco mas sim cantar e dançar nos palcos. Com sua mãe e sua noiva brigando para controlar sua vida Bobby vai para uma cidadesinha do interior chamada Pedra Morta com a finalidade de executar uma hipoteca de um teatro. Lá ele conhece Polly, a única mulher da cidade, bem masculinizada e interiorana, e se apaixona por ela. Porém ela é filha do dono do teatro que ele busca executar e com isso toda a história se desenrola. 

O forte desse espetáculo não é um texto elaborado, mas sim as músicas e, principalmente, as danças. No estilo dos musicais antigos as coreografias são baseadas no sapateado, o que me encantou ainda mais, bem coreografadas as cenas são lindas e dizem tudo o que um bom texto diria. Com um cenário e figurino competentes, o musical está maravilhoso do começo ao fim.

Mais uma adaptação do Miguel Falabella que entrou pra minha lista de favoritas (na verdade todas as que vi dele estão na lista)
Para aqueles que estão interessados a temporada já está no fim tendo apenas mais esse fim de semana de espetáculo. 

No Teatro Bradesco, Shopping Bourbon São Paulo (Rua Turiassu, Piso Perdizes, 2.100 - Perdizes).


22 de março de 2014

[DDI] Releituras


Há um tempo tive que reler o livro Cira e o Velho para um evento que iria participar e me vi, depois de alguns anos, ainda presa à história, mesmo que já soubesse o fim e a trama isso não impediu que eu me encantasse mais uma vez pela história que já tinha me prendido antes. E pelo tempo que tinha passado desde meu primeiro encontro com Cira posso também dizer que foi uma leitura diferente, como diz o filósofo “não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”, nem eu nem o livro somos mais os mesmos, eu adquiri uma bagagem maior e uma outra percepção, o livro foi discutido,comentado e descoberto, somos diferentes e assim também é a leitura. 

Isso me fez pensar sobre releituras em geral, como seria retornar hoje a mundos, histórias e personagens que já tinha conhecido antes. 
Como seria reler, depois de conhecer e percorrer o mundo da magia, os sete livros de Harry Potter, como o tempo teria mudado a percepção desse livro que me marcou e é um ícone para mim até hoje. 

Será que hoje teria mais paciência ao reler Senhor dos Anéis sem querer passar as descrições desesperadamente para descobrir o que iria acontecer (e só para esclarecer eu não pulei nem uma linha, muita força de vontade rs)? 

Será que ainda me encantaria com as façanhas da narrativa de Machado de Assis assim como fiquei boquiaberta quando li? Será que seus narradores me apresentariam tantas especulações e facetas como da primeira vez?

Tantos livros que mudaram minha vida, será que hoje eles ainda me mudariam? 
Nem eu sou a mesma nem os livros, mas o amor pela leitura só aumenta, e acho que terei que reler vários para descobrir quais lições e encantos se esconderam de mim quando os conheci pela primeira vez. 



DDI – Delírios, Devaneios e Insensatez - um espaço em que escrevo todos os pensamentos, delírios e devaneios que vêm a minha cabeça, o que é no mínimo uma insensatez. 

14 de março de 2014

Exposição – Grimm Agreste



Um dia olhando o site da Veja SP me deparo com uma exposição sobre os irmãos Grimm mas adaptada para o estilo nordestino, logo pensei “por que não??” e lá fui eu. 
A exposição está no Sesc Interlagos e pra dizer o mínimo ela é intrigante. Baseada no livro Contos Maravilhosos Infantis e Domésticos, dividida em cinco ambientes, cada um com uma proposta diferente e bem interessante. 
No primeiro ambiente que visitei, chamado Sala Prefácio, era possível ver pinturas no chão e nas paredes com trechos sobre a história dos irmãos como dos contos em que foi baseada a exposição. Há totens no teto representando os cenários em que as histórias ocorrem, como A Torre, A Floresta, o Lago, entre outros, há desenhos e frases no chão, esse primeiro ambiente já é arrebatador e uma boa dica dos encantos por vir. 


O segundo ambiente, com o nome Mar de Histórias, é o mais psicodélico e o mais difícil de digerir e entender (pelo menos foi para mim) de um lado da parede há uma montagem com vários objetos chamada Todas as Coisas do Mundo, em que cada objeto é uma charada ou dica, na parede oposta há as 156 Caixinhas Encantadas em que cada caixa representa um dos 156 contos. 


Daí passei para um bosque, que é o ambiente mais tranquilo da exposição, no centro há uma exposição de xilogravuras e uns espaços com bancos em que se pode sentar e ouvir alguns dos contos. 

O observatório foi o ambiente que menos aproveitei, fica na varanda. 

O ambiente que meu lado viciado em livros mais amou foi a Biblioteca, um espaço com uma grande mesa, bancos e sofás onde se pode ler os livros que estão expostos (inclusive o que inspirou a exposição) entre tantos outros, além de caixas que estão suspensas e é possível encontrar uma surpresa em cada uma. 


Adorei a exposição, e acho que poderia ter aproveitado melhor se conhecesse mais contos dos irmãos Grimm, mas isso não impediu que eu ficasse deslumbrada com cada estrutura. Recomendo a visita, sem contar que o Sesc é um ótimo lugar para passar o dia (apesar de ter sido quase uma viagem chegar lá rs).
A exposição está no Sesc Interlagos, ficará disponível até 31 de agosto, de quarta a domingo e feriados, das 10 às 16 horas.