15 de maio de 2014

[Livro] Norwegian Wood - Haruki Murakami



Livro: Norwegian Wood

Título Original: Norwegian Wood 
Autor: Haruki Murakami
Editora: Alfaguara
Ano: 2008
Avaliação: 5/5
Sinopse: Em 1968, Toru Watanabe acaba de chegar a Tóquio para estudar teatro na universidade, e mora em um alojamento estudantil só para homens. Solitário, dedica seu tempo a identificar e refletir sobre as peculiaridades dos colegas. Um dia, Toru reencontra um rosto de seu passado: Naoko, antiga namorada de seu grande amigo de adolescência Kizuki antes deste cometer suicídio. Marcados por essa tragédia em comum, os dois se aproximam e constroem uma relação delicada onde a fragilidade psicológica de Naoko se torna cada vez mais visível até culminar com sua internação em um sanatório. 
Tem início então um período de grande dilema para o jovem Toru: uma encruzilhada entre o compasso de espera pela recuperação de Naoko e os encantos de uma outra vida, mais vibrante, personificada pela exuberante e liberada Midori mas também por sua relação com uma mulher mais velha, Reiko.
Ambientado em meio à turbulência política da virada dos anos 1960 para os anos 1970, Norwegian Wood, como a canção dos Beatles que lhe empresta o título, é uma balada de amor e nostalgia cuja rara beleza confirma Murakami como uma das vozes mais talentosas da ficção contemporânea. (Fonte: Objetiva)


Comentários:


Norwegian Wood é, simplesmente, um dos livros mais lindos e melancólicos que li nos últimos tempos. Estava ansiando uma leitura mais densa, que me causasse um envolvimento emocional mais profundo, e encontrei nele tudo aquilo que todos dizem sentir com a leitura de O Apanhador no Campo de Centeio e que, honestamente, não consegui achar por pura falta de sintonia com o seu protagonista.

O que me encantou no livro, antes de tudo, foi a referência óbvia aos Beatles. A canção Norwegian Wood (do álbum Rubber Soul) em si já traz uma certa carga de melancolia, um sentimento de solidão e isolamento que reverbera no texto de Murakami a todo momento. A descrição dos lugares e dos sentimentos vivenciados por seus personagens tem um quê de pungência silenciosa, quase como uma pintura, com dois temas principais que permeiam toda a sua narrativa: morte e amadurecimento, que são complementares em todas as suas nuances, de uma vivência dolorosamente intensa.

Logo no início do livro, em uma passagem que fala de um poço escondido em uma campina, Murakami já dá o tom da sua narrativa: o frágil equilíbrio entre vida e morte, alegria e depressão, constantemente presentes nas relações entre Toru e os demais personagens, em que se ter a companhia do outro pode ajudar a não se perder, não se deixar cair em um abismo profundo e sem salvação. O contraste estabelecido não é para mostrar as diferenças entre um e outro, mas sim para que se perceba que um faz parte do outro, e não uma consequência ou resultado, como dito pelo próprio protagonista: "A morte existe, não como o oposto da vida mas como parte dela."


Ao falar do amadurecimento de Toru após a morte de Kizuki, que acabou aproximando-o de Naoko, a sensação que tive a todo momento é que todas as certezas que achamos encontrar na vida adulta não existem, que continuamos tão perdidos quanto na adolescência. Toru me transmitiu essa sensação através da sua aparente indiferença, quando continua vivendo e naquela mesma rotina (mesmo sem encontrar um motivo para tal) apenas por ser o que lhe restou. Isso me causou uma impressão muito forte, porque prosseguimos seguindo um roteiro pré-estabelecido sem sabermos realmente o motivo, sendo que a única certeza de tudo é a morte. As constantes cenas de sexo no livro são um modo de estabelecer uma comunhão com os que já se foram ou para preencher o vazio que as pessoas que se foram deixaram para trás. É tudo muito intenso, muito instável, de pessoas buscando conforto para a vida, sobrevivendo a traumas tão profundos, tentando lidar com a repressão de sentimentos em um período histórico de mudanças tão significativas.


Mas Toru acaba encontrando em Midori um contraponto muito interessante. Ela é exatamente tudo o que há de mais diferente em comparação a qualquer personagem do livro. Seja pelo senso de humor, pelo comportamento ou pela filosofia de vida. Midori é uma personagem que esbanja vida, que tem lidado com uma série de problemas familiares que não a enfraqueceram, mas acrescentaram algo a ela, e que de longe é a minha personagem favorita.

A resenha toda está um pouco vaga porque é difícil falar de um livro assim sem entregar spoilers. Norwegian Wood é o típico livro em que a história em si não importa, não tendo tantas reviravoltas ou um clímax que já não se esperasse desde o seu começo. O que importa é o modo como vivenciamos a experiência de lê-lo, de nos deixarmos envolver pelos dramas e traumas de todos os seus personagens, todos tão ricos, tão profundos e tão peculiares entre si. E bateu uma depressão danada encerrar essa leitura, de tanto que acabei de apegando.



"Ninguém gosta tanto assim de solidão. Eu só não me esforço para fazer amizades. Isso só serviria para me decepcionar".


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